Juiz argentino se reuniu com diretor da AVTSM e advogada e pretende atuar junto à ONU para verificar processos contra pais de vítimas da tragédia da Kiss
Durante a visita à Argentina, quando foram recebidos por membros da Comissão Interamericana de Direitos Humanos, o diretor jurídico da Associação de Familiares de Vítimas e Sobreviventes da Tragédia de Santa Maria (AVTSM), Paulo Carvalho, e a advogada Tâmara Biolo Soares tiveram, no dia 26 de maio, uma audiência no prédio de Los Tribunales Federales, com o juiz argentino Gustavo Hornos, que integra o Tribunal Constitucional de Cassação e é professor de Direito Processual Penal no Instituto Universitário da Polícia Federal Argentina. Após saber do caso dos pais de vítimas da tragédia da Boate Kiss processados na Justiça, ele comentou que vai atuar junto à Organização das Nações Unidas (ONU) e outros organismos internacionais para verificar essa situação que vai contra os direitos humanos,
Na Argentina, até houve tentativas de processos contra pais de vítimas da tragédia da boate República Cromañón (em dezembro de 2004, com 194 mortos), mas aqueles que tiveram essa intenção acabaram rechaçados por todos, incluindo setores do Judiciário. Situação bem diferente da que ocorre no Brasil.
A diferença também é flagrante no Judiciário. Em relação à tragédia da Cromañon, mais de uma dezena de servidores públicos foi condenada. No total, foram 28 pessoas responsabilizadas, incluindo o proprietário do imóvel da casa noturna de Buenos Aires. Outra diferença: o prefeito de Buenos Aires foi afastado e hoje, 13 anos depois, ainda tenta voltar. Já o prefeito de Santa Maria da época da tragédia, Cezar Schirmer, foi promovido a secretário da Segurança do RS.
Mais uma diferença: a Agencia de Controle, que seria o correspondente a agentes públicos do Ministério Público, trabalha em conjunto com a ONG Familias por la Vida na verificação de locais irregulares. Só neste ano, fecharam mais de 100 estabelecimentos até a regularização.
A audiência com o juiz argentino aconteceu após a presidente da ONG Familias por la Vida, Nilda Gómez, falar a assessores do juiz a respeito dos processos judiciais contra os pais de vítimas da Kiss, algo inadmissível para eles. A diretora jurídica da ONG Silvana Gomes também participou do encontro.
Nilda é mãe de Mariano, que morreu na tragédia de Cromañón aos 20 anos. Ela e outros pais formaram a associação e, desde então, tem trabalhado na busca da Justiça e no apoio aos familiares e aos sobreviventes, com estudos importantes sobre os efeitos físicos e psíquicos ao longo dos anos. A ONG conseguiu fechar centenas de casas de show irregulares com riscos aos frequentadores e promove palestras em escolas e entidades para a conscientização de jovens, com o lema “É proibido proibir, melhor é prevenir”.